segunda-feira, 28 de maio de 2012

O que é Arte Naif



O que não é Arte Naïf

Arte Naïf não é arte primitiva. Essa denominação é mais apropriada para os povos que vivem num tempo histórico preciso, como a arte pré-histórica, as culturas africanas ou os criadores de arte cristã do início da Idade Média. Seus criadores, anônimos, vinculam-se a um estado preciso de evolução cultural e não têm uma PREOCUPAÇÃO ESTÉTICA, mas uma função social ritual dentro de suas culturas particulares, ligada a atividades de caça, pesca, coleta, magia ou religião.

Arte Naïf não é arte folclórica, do povo, tradicional, rústica ou provinciana. Estas, segundo o crítico Arnold Hauser, revelam influência mínima do GOSTO INDIVIDUAL, pois o artista é um porta-voz da comunidade, um veículo da visão estética do grupo.

Arte Naïf não é arte dos Pintores do Coração Sagrado, denominação dada pelo marchand e historiador de arte Wilhelm Uhde a Louis Vivin, Camile Bombois, Louis Séraphine e André Bauchant, grupo de artistas que se caracterizam por forte emoção e a revelação de um MUNDO INTERIOR muito específico.

Arte Naïf não é criação de pintor amador, pois estes realizam obras parecidas às dos ARTISTAS PROFISSIONAIS, mas sem qualquer valor estético, pois tentam dominar técnicas, formas e estilos, adquirindo esse conhecimento a partir dos mestres.

Arte Naïf não é feita pelos chamados Pintores de Domingo ou da Semana de Sete Domingos, segundo a denominação de Anatole Jakovski, que tomam a atividade de pintar como uma ocupação ocasional, um hobby, não uma ATIVIDADE PRATICADA INTENSA E SERIAMENTE.

Arte Naïf não é arte feita por crianças. O sistema de figuração delas corresponde a estágio específico do desenvolvimento mental, em que deformações anatômicas ou falhas de perspectiva não são expressões de um ESTILO PESSOAL, mas expressões do estado imaturo da consciência emocional.

Arte Naïf não é criada por mestres populares da realidade, denominação dada a Maximilien Gauthier àqueles que reproduzem artisticamente o mundo que os cerca, porque isso exclui os pintores sonhadores e desligados da realidade, aqueles considerados VISIONÁRIOS.

Arte Naïf não é só feita pelos pintores de instinto, nome dado por René Huyghe, ou pintores de instinto e do coração, de acordo com Bernard Dorival, denominações muito usadas na Europa central, onde o termo ARTE INSTINTIVA também é comum. Ele inclui não só os naïfs, mas também aos artistas gráficos de antigas civilizações tecnologicamente menos avançadas.

Arte Naïf não é apenas arte ínsita (inata), termo usado nas Trienais de Bratislava, na Eslováquia, que valoriza a importância do conteúdo inconsciente e trata a expressão artística como um dom uma dádiva dos deuses, excluindo a possibilidade do AUTODIDATISMO, ou seja, da construção e aquisição e construção de um conhecimento pelo próprio pintor.

Arte Naïf não é Arte imediata, nome dado por Patrice Walberg a produções artísticas feitas com espontaneidade rapidez, porque isso exclui a possibilidade de uma PRODUÇÃO MAIS ELABORADA.

Arte Naïf não é Arte Bruta, aquela feita por pacientes nas clínicas psiquiátricas, definida pelo artista plástico Jean Dubuffet como uma expressão artística selvagem, indomável e NÃO DOMESTICADA. As manifestações da Arte Bruta, mantém, portanto, pouca relação com a tradição ou com as tendências da moda. A denominação, assim, se aplica apenas a autores marginais, com problemas mentais ou de reduzida inserção social.

Arte Naïf é atualmente chamada por muitos de Primitiva Moderna, termo criado por Georges Kasper que recebe o aval de Bihalji-Merin. Ressalte-se que os naïfs ou primitivos modernos, ao contrário dos tradicionais primitivos, não são produto de um estado preciso de evolução cultural e não tem uma função social em suas culturas particulares, baseando-se sim no INDIVIDUALISMO.

O que é Arte Naïf

Qualquer definição é limitadora, mas necessária para evitar uma anarquia de nomenclaturas. Em linhas gerais, pode-se considerar artista naïf (ingênuo, em francês) aquele que se caracteriza por ter a si mesmo como único padrão. Sem referências culturais limitadoras e sem dominar um conhecimento teórico e dogmático sobre sua atividade, produz suas telas livremente. Há inclusive aqueles que começam a pintar tardiamente por falta de tempo, pelo desejo inicial de dar vazão à criatividade nos momentos de lazer ou pelo surgimento da vontade, consciente ou não, de inscrever o nome na posteridade.

Sem modelos, os naïfs enfocam os temas mais variados, predominando cenas da vida cotidiana (rurais ou urbanas), geralmente com minuciosas descrições e precioso detalhismo. Para a historiadora brasileira Marta Dantas, o segredo da arte naïf estaria justamente nessa distância entre o objetivo almejado pelo artista e a sua falta de técnica acadêmica para concretizá-lo.

Surge daí um artista imerso numa jornada única. Ele não continua uma tradição nem rompe com uma, pois, simplesmente, não as estudou e não se preocupa com as normas impostas pelas academias e críticos de arte. Seu objetivo é representar uma imagem ou pensamento sem levar em conta qualquer tipo de barreira conceitual ou técnica. O resultado, portanto, dependerá de sua sensibilidade, talento e capacidade de ser, acima de tudo, fiel a si mesmo.

O primeiro a receber a denominação de arte naïf foi o pintor francês Henri Rousseau, na segunda metade do século XIX. O autor do batismo foi o escritor Alfred Jarry, que se fascinou com a obra daquele alfandegário autodidata, capaz de criar imagens fantásticas como A cigana adormecida.

A partir daí, o termo foi usado para designar os artistas que não cursaram Escolas de Belas Artes e não se filiam a nenhum dos movimentos consagrados na história da arte, como impressionismo, surrealismo ou expressionismo. A denominação foi consagrada pela crítica e naïfs podem ser encontrados em todo o mundo, principalmente em países do Leste Europeu, como Iugoslávia, Hungria e Eslováquia, Haiti, França, EUA, Brasil, Argentina, Espanha e Portugal.

Desproporções, cores vibrantes, freqüente ausência de profundidade e criatividade espontânea, sem a preocupação de seguir padrões, passaram a ser então as características mais constantes desses naïfs, artistas não intelectualizados que apresentam justamente aquilo que falta à chamada arte acadêmica, ou seja, simplicidade e espontaneidade individual.
Oscar D’Ambrosio é jornalista, crítico de arte e autor de Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus(Editora UNESP).

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