quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cultura Mochica


A Cultura Mochica teve uma vasta influência, mas não está bem esclarecido até que ponto se estendia nas áreas periféricas. Apesar de se terem encontrado objetos de estilo Moche tão para o sul como o vale Huarmey, é provável que não existisse aí uma influência política séria. Encontraram-se grandes quantidades de objetos do estilo Mochica no vale Piura, no Norte, mas nenhum vestígio de arquitetura. Não obstante, os Mochica, serem um povo agressivo. O que é claro não só pela expansão geográfica como pela quantidade de motivos de guerra na sua iconografia, provavelmente muito daquilo que consideramos como estando sob a sua influência deve-se apenas pela arte.


Na costa norte do Peru, o fenômeno Chavín foi seguido pelas culturas Salinar e Gallinazo. Salinar produziu uma cerâmica relativamente simples, com bicos e asas laterais. Gallinazo fez parte de uma muito difundida moda de cerâmica pintada a negativo, que se encontra desde Hacha, no Sul, onde parece ter aparecido em primeiro lugar, até à região de Piura (Vicús), no Norte. A cerâmica pintada em negativo (com um revestimento protetor nas partes que não são pintadas) caracteriza também a cultura Recuay, no Callejón de Huaylas, por cima dos vales costeiros dos Mochica. Batizada com o nome de uma povoação do Callejón, não muito longe de Chavín de Huantar, o estilo Recuay teve algumas raízes na arte Chavín, mas mostrou muitas características individuais. Depois do fim do domínio de Chavín, o templo de Chavín de Huantar foi ocupado por povos Recuay. O estilo Recuay iniciou-se talvez um pouco antes do de Mochica, mas é essencialmente contemporâneo. Um certo número dos motivos da arte Mochica parecem ter sido pedidos emprestados ao estilo Recuay, e sem dúvida que existiram contatos, pois a água do rio para a irrigação dos vales Mochica tinha a sua origem no território Recuay. Esses motivos Recuay são utilizados nas cenas Mochica, que representam o ritual da coca e atividades relacionadas. Pelo menos parte da coca dos Mochica, deve ter vindo do território Recuay, ou passado através dele, numa qualquer altura da sua história.


AS DIFERENÇAS ENTRE MOCHICA E RECUAY.


Considerando a proximidade geográfica e os óbvios contatos, as diferenças entre Mochica e Recuay são interessantes. Recuay produziu conchas de cerâmica, vasos-efígies e potes com figuras na sua parte superior, que eram formas Mochica. Contudo, as formas dos vasos são em geral diferentes: as características típicas dos Recuay são as urnas de bocas reviradas, os recipientes anelares, os recipientes globulares de bicos muito alargados e os bicos que saem da parte superior de alguns recipientes como se fossem a ponta de um funil. Apesar de serem utilizados alguns dos mesmos motivos, parecem transmitir mensagens diferentes. Alguns dos motivos comuns, não associados à coca, são os seguintes: formas semelhantes a casas, figuras segurando em recipientes, um homem com um felino, uma figura a ser picada por abutres e a denominada lua animal.

A REGIÃO E OS LOCAIS.


O local de Moche, perto da moderna cidade de Trujillo, era o centro cerimonial e administrativo do povo Mochica (ou Moche) pelo menos durante uma parte substancial do seu período de importância, desde cerca do tempo de Cristo até por volta de 600 d. C. A Huaca del Sol, ou Pirâmide do Sol, uma enorme estrutura de adobe com 40 metros de altura e pelo menos 350 metros de comprimento - a maior estrutura de adobe sólido em todo o Novo Mundo, foi provavelmente construída ao longo de vários séculos e era muito maior do que o é agora. Hoje ainda resta é talvez um terço do seu tamanho original. Nos nossos dias, a pirâmide tem vista para campos irrigados junto da beira do rio e para o deserto claro e nu que fica do outro lado. A pirâmide está virada para a Pirâmide da Lua (Huaca de la Luna), que fica para lá de um grande espaço, situada logo por baixo de uma colina proeminente, Cerro Blanco; a montanha feita pelo homem que é a Pirâmide do Sol enfrenta a montanha natural. Uma grande formação de “rocha viva” enquadra a face do local virada para o interior, no fim das duas grandes estruturas. Os restos entre as duas grandes pirâmides estão agora cobertos de areia.

Neste vale, e noutros ao longo da custa, os Mochica cultivaram algodão, milho, batatas, amendoins e pimentões por meio da irrigação do deserto costeiro. É claro que a pesca era também uma das principais fontes de subsistência. Fornecia alimentos para consumo imediato pelos povos costeiros e artigos para o comércio com os povos do interior.


OS ESTILOS DA CERÂMICA MOCHICA.

Os estilos da cerâmica dos Mochica foram divididos numa série de cinco fases. Mocho I e II, encontram-se por cima do estrato Gallinazo nos vales Moche, Chicana e Virú, e datam de por volta dos tempos de Cristo ou um pouco antes. A fase mais antiga que se encontra no vale Santa é o Moche III, o que é uma indicação de que a expansão para sul teve lugar por essa altura. O esplêndido local de Paúamarca, no vale Nepeúa, com pinturas murais e vestígios de Moche IV, marca o extremo sul da arquitetura Mochica, apesar de existirem provas (cerâmicas) de uma presença Mochica tão para sul conto Huarmey. Para norte, a situação é mais complexa. Foram encontrados túmulos Mochica em Pacatnamu, o que seria uma indicação de uma normal expansão para norte. Porém, no extremo norte, no vale Piura, foi encontrada cerâmica Mochica muito antiga, bem como alguns dos mais belos trabalhos em metal no estilo Mochica.

Um vasto cemitério, conhecido por Loma Negra, revelou centenas de exemplares de magníficos trabalhos em ouro, prata e cobre. Também nessa mesma região e aparentemente da mesma data (apesar de não se saber se foram encontrados juntos) surgiram cerâmicas decoradas relacionadas com as descobertas no vale Virú. Isto deixa em aberto as possibilidades de o povo Mochica ter chegado ao vale de Moche vindo do Norte, de ter existido uma anterior colônia norte de povos de Moche, ou a de que os povos dos vales de Piura e Moche possam ter dado origem a um terceiro local, ainda não descoberto, talvez a meio caminho. Seja qual for a explicação, houve uma presença Mochica nos vales do Norte cerca dos tempos de Cristo, e verificou-se um abandono do local Moche e uma definida mudança do centro do poder para a região de Lambayeque por volta de 600 d. C.


O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE MOCHE.


O sítio arqueológico está abrigado por uma colina arenosa. Do cimo da sua gigantesca pirâmide principal, a vista perde-se, através do deserto, no mar e no vale cultivado, observa-se também o vale por onde desce o rio e que é limitado pelas montanhas. A maior parte dos sítios arqueológicos andinos encontra-se perto de uma colina, que era um local sagrado e ao mesmo tempo um ponto estratégico, do qual se podia avistar aos arredores. Os primeiros trabalhos arqueológicos em Moche foram realizados, em 1899, por Max Uhle, que descobriu as pinturas da pirâmide da lua (depois desaparecidas) e túmulos na área entre as duas pirâmides. Recentemente tem se apreendido novos projetos de estudo. Moche foi abandonado perto do período intermediário inicial. Galindo, na parte superior do vale, passou a ser o centro local mais importante. Existe ainda uma comunidade próxima de Moche, cujos costumes foram estudados em princípios do século XX como restos dos modelos de comportamento de antepassados pré-colombianos.


A ARTE E A RELIGIÃO.

Os artesãos Mochica encontravam-se entre os melhores do Novo Mundo. Entre eles contavam-se engenhosos ourives que douravam a prata e o cobre com subtileza, bons tecelões, tal como o atestam os poucos restos de têxteis, e notáveis oleiros. As decorações das cerâmicas incluem a modelagem em alto-relevo, os baixos-relevos criados por estampagem e cenas pintadas em superfícies lisas. Alguns vasos eram feitos em moldes, mas muitos eram trabalhados à mão. A variedade de formas era grande, mas as mais elegantes tinham quase todos bicos em estribo. As cerâmicas não só mostram uma grande variedade de formas e decorações como revelam mais sobre os mitos e rituais dos Mochica, do que os artefatos de qualquer outra civilização dos Andes.

O sistema iconográfico básico parece ser o de temas em grupos que por vezes se sobrepõem (como no caso do moderno símbolo dos Jogos Olímpicos). Por exemplo, um grupo pode ter que ver com o ritual da mascagem de folhas de coca, representando por vezes, mas nem sempre, a cabaça e o pau para a lima que era usada com as folhas. Porém, mesmo quando estes artigos estão ausentes, as figuras continuam a ser reconhecidas como sendo do ritual da coca, por causa das roupas características. Algumas cenas de batalha mostram figuras com o vestuário próprio dos rituais da coca. A guerra e a captura de prisioneiros para sacrifícios por decapitação são temas artísticos proeminentes.

O principal deus dos Mochica era uma derivação de Chavin, tal conto muitos outros deuses dos Andes. Tinha caninos de felino e um cinturão com tiras terminadas em cabeças de serpente. Por vezes era representado com as orelhas típicas da arte de Chavín ou com curiosos rebordos em volta dos olhos, que também se encontram em algumas cerâmicas do Horizonte Primitivo.




Em cima, o retrato de um deus Mochica que forma o corpo deste vaso com bicos em estribo. A boca angular e com presas, os olhos com um rebordo, a forma das orelhas e as serpentes na cabeça derivam das representações das divindades Chavín. Estes vasos foram encontrados em túmulos e deviam ser feitos apenas para os funerais.

O FIM DE MOCHE.

No final da fase IV parece ter-se verificado o virtual abandono do local de Moche. Aparentemente, o verdadeiro centro do poder deslocou-se para Pampa Grande, no vale Lambayeque, um antigo local do Horizonte Primitivo. Há algumas provas de que se começou a depositar Lima grande camada de areia sobre Moche e sobre o sistema de canais à sua volta, o que terá impedido a agricultura e forçado a população a abandonar o local. A expansão Huari, que se inicia mais ou menos por esta altura, poderá também ter provocado algumas modificações. É um fato que se verificam mudanças de estilo e de ternas na arte Moche da fase V. O bico em estribo modifica-se ligeiramente, o que não é de surpreender se considerarmos a evolução da forma durante as fases geral menos habilidosa. Uma das principais mudanças de estilo é uma espécie de agorafobia pictórica, em que as cenas pintadas estão tão cheias de pormenores de preenchimento de espaços vazios que por vezes se torna difícil de ler os temas principais. Surgem novos temas e são abandonados os antigos. Durante a fase Moche final, talvez contemporânea dos vasos Moche V, os motivos e estilo de pintura Huari misturaram-se com os motivos e formas Mochica. Mesmo nos vasos Moche V mais puros os pormenores iconográficos, o desenho de um olho, a foto de um ornamento de toucado, surgem os princípios dos estilos Lambayeque e Chimu.

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