A Fonte é o nome daquele mictório – também conhecido como mijadouro ou urinol em português castiço – alçado à obra de arte revolucionária pelo gênio, visão, oportunismo e imensurável senso de humor de Marcel Duchamp. Leio numa matéria da Economist traduzida pela Carta Capital que alguns críticos a consideram a obra de arte mais importante do século XX. O francês Duchamp, como se sabe, já era um pintor e escultor razoavelmente conhecido aos trinta anos, em 1917, e integrava o conselho da Sociedade de Artistas Independentes.
Naquele ano a sociedade organizava uma grande exposição nos Estados Unidos e Duchamp decidiu inscrever uma obra na mostra, aproveitando um hábito que desenvolvera nos últimos tempos e que alguns amigos interpretavam como simples brincadeira: a utilização de material de uso comum em suas esculturas. Foi assim que “assinou” um prosaico mijador com o pseudônimo – ele sabia que todo mundo consideraria aquilo uma piada – de R.Mutt, mais a data, 1917, batizou-o como A Fonte e o inscreveu na exposição.
O urinol foi obviamente vetado pelo conselho, que não enxergou ali nenhum trabalho artístico, e Duchamp, em protesto, se demitiu. A história rendeu algumas notas na imprensa americana e o mijador acabou esquecido, jogado nalgum lixão obscuro ou mesmo destruído. Não se sabe ao certo que melancólico fim levou a obra mais importante do século XX. Nasceu ali, talvez sem que o próprio Duchamp se desse conta, o conceito de ready-made, que revolucionaria a arte contemporânea. Mas a percepção da importância da Fonte como um novo conceito de arte, em que a ideia vale mais que o objeto que a expressa, chegaria mais tarde, e só trinta anos depois o urinol assinado por R. Mutt tornou-se, enfim, um objeto cobiçado e valoroso.
Em 1964 Duchamp decidiu repetir o gesto artístico que o consagrara – comprar mijadouros em lojas de construção – e nove Fontes foram distribuídas a museus e acervos. A ironia, grande piada e fabulosa sacada de Duchamp é que os mijadores de porcelana barata comprados por um punhado de dólares tornaram-se, depois de assinados por R.Mutt, obras orçadas hoje em dia em alguns milhões de dólares, cada uma. Tudo isso porque Duchamp pensou no mijador como arte. Teria se inspirado num momento de devaneio durante uma prosaica mijada?
Sem dúvida, Alex Vallauri (1949-1987) é considerado um dos maiores percursores da Arte Urbana no Brasil!
Grande utilizador de stencil e da rua como um dos principais suportes para o seu trabalho!
Alex veio para o Brasil (cidade litorânea de Santos – onde treinou a técnica da gravura retratando as pessoas no porto de Santos – e mais tarde para a capital paulista) com a família no ano de 1965. Formado em Comunicação Visual pela Fundação Armando Álvares Penteado (instituição em que alguns anos mais tarde ministrou desenho). Em 1975 foi se especializar em Artes Gráficas no Litho Art Center na cidade de Estocolmo, na Suécia.Retornando ao Brasil em 1977, deu continuidade aos grafites em espaços públicos, desta vez nos muros de São Paulo. Ao mesmo tempo estudou novas maneiras de aplicações de gravura, como a xerografia.
Pioneiro na arte do graffiti no Brasil, Alex usou outros suportes além dos muros urbanos; estampou camisetas, bottons e adesivos. Para ele, o graffiti é a forma de comunicação que mais se aproxima do seu ideário de arte para todos.
Seu interesse por objetos kitsch fez com que, em meados dos anos 1970, passasse a fotografar painéis de azulejos, pintados nos anos 1950 e colados nas paredes de restaurantes de São Paulo. Seus registros fotográficos resultaram no vídeo Arte para Todos, mostrado na Bienal Internacional de São Paulo em 1977.
Para outras documentações envolvendo a decoração kitsch passou a observar e registrar embrulhos de papel de confeitarias, padarias e outros tipos de comércios. Iniciou uma coleção de carimbos de uma fábrica com desenhos da década de 1950. Totalizando uma coletânea de 400 carimbos, Vallauri compôs suas obras utilizando esses carimbos em outras novas técnicas experimentadas por ele.
As imagens apresentadas em seus trabalhos eram de simples e rápido entendimento, pois ele acreditava que uma vez expostas em meio ao caos da cidade, as imagens deveriam ser de imediata compreensão.
No final dos anos 1970, o graffiti de uma bota preta, de salto fino e cano longo, foi um dos trabalhos do artista – produzido e inserido na paisagem urbana – no anonimato. Na mesma época, enviou para artistas e amigos uma seqüência de postais manufaturados que consistiam em cópias de cartões postais, contendo edifícios históricos da cidade, com a intervenção do carimbo da bota preta sobreposto aos arranha-céus e com frases sobre a invasão da bota na cidade.
Apropriou-se também de imagens das histórias em quadrinhos e da história das artes.
Entre 1982 e 1983 foi para Nova Iorque para estudar artes gráficas no Pratt Institute. Voltando ao Brasil, passa a dar aulas na FAAP. Participou da 18ª Bienal de São Paulo, em 1985, com uma instalação, e seu trabalho mereceu retrospectiva no Museu da Imagem e do Som em 1998. Morreu no dia 27 de março de 1987.
Alex Vallauri – A Rainha do Frango Assado – Nova York (EUA) – 1983
Cíntia Monteiro – 1990 – Rua da Consolação, em São Paulo. Grafite de Maurício Villaça em homenagem à Rainha do Frango Assado de Alex Vallauri.
El Trio Los Panteras – 1982. Graffiti com stêncils aplicados com spray de Alex Vallauri.
Graffiti de Alex Vallauri – A Gata do Soutien de Bolinhas Correu ao Telefone – 1983
Graffiti de Alex Vallauri – Sem Título – 1985
Alex Vallauri e stencils
Alex Vallauri, Diabinho em recorte, camiseta serigrafada e sky line no fundo – SP 1984
Alex Vallauri graffiti outdoor1
Alex Vallauri graffiti outdoor2
Stencil Alex Vallauri
O vídeo a seguir mostra trechos do momento de sua vida em que estava realizando o trabalho de “A Rainha do Frango Assado”, que foi também tema da instalação da 18ª Bienal Internacional de São Paulo(1985). Reparem no último recado que ele deixa!
“…Alex Vallauri e eu nos conhecemos no início da década de 1980 quando ele estava vivo e morava em Nova York seu estúdio dava vista para Tompkins Square Park. Alex era um homem humilde, e certamente não é um tipo de auto-promoção. Quando ele saiu de NYC para visitar família dele em São Paulo, ele não estava se sentindo bem, e através da nossa língua barreira eu tentei explicar que ele poda estar apresentando sintomas da misteriosa nova doença ‘gay’, o HIV. Com seu sintomas atribuídos à inalação dos vapores de tintas spray, Alex se tornou progressivamente doente, e escrevia cartas para mim descrevendo sua vida de volta no Brasil, e como o seus ‘tratamentos médicos’ foram indo. A sua última carta, escrita por ele e por um amigo, porque sua visão foi afetada, foi datada de 27 de dezembro de 2006. Nela, ele escreveu que ele estava esperando para ser coima em seis meses. Foi exactamente seis meses mais tarde, em seu aniversário, 27 mar, que ele faleceu. Hoje 27 mar é um Dia Nacional de Graffiti Arte no Brasil. A morte por HIV de Alex foi o catalisador que permitiu que houvesse discussão aberta no Brasil, assim como o Rock Hudson nos EUA. Eu não tinha entendido que Alex foi considerado importante na transformação da rua vandalismo em uma forma artística superior, e que sua arte foi avaliado pelo críticos de arte. Foi cerca de 15 anos após a sua morte que durante a conversa na Internet com um estudante de belas artes de São Paulo, eu perguntei: “Você já ouviu falar de um artista chamado Alex Vallauri?” Ele respondeu, “Você está brincando, certo? Isso seria como me perguntando se você nunca ouviu falar de Andy Warhol!”…”
Estes são relatos de Braian Halphman, que foi amigo de Alex
BiografiaAlex Vallauri (Asmara Etiópia 1949 - São Paulo SP 1987). Grafiteiro, artista gráfico, gravador, pintor, desenhista e cenógrafo. Chega ao Brasil em 1965 e estabelece-se em Santos, SP, transferindo-se depois para a capital paulista. Ainda em Santos, inicia-se em xilogravura e é premiado no Salão de Arte Jovem, em 1968. Em 1970, expõe individualmente naAssociação Amigos do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. No ano seguinte, forma-se em comunicação visual pela Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP e, dois anos depois, torna-se professor de Desenho de Observação e Livre Expressão da mesma escola. Especializa-se em litografia no Litho Art Center de Estocolomo, Suécia, em 1975. A partir de 1978, de volta ao Brasil, realiza grafites e trabalha com ste ncils em São Paulo. Realiza individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp em 1981. Vive em Nova York, onde cursa artes gráficas no Pratt Institute, entre 1982 e 1983. Participa da Bienal Internacional de São Paulo em 1971, 1977, 1981 e 1985, quando mostra a série A Rainha do Frango Assado, tema de instalação neste último evento. Em 1988, sua obra é tema da retrospectiva Viva Vallauri, realizada no Museu da Imagem e do Som - MIS, em São Paulo.
Comentário críticoAlex Vallauri chega ao Brasil em 1965 e estabelece-se em Santos. Nessa época, produz registros gráficos de alto contraste, cujos temas são personagens do porto, como estivadores e prostitutas.
Na década de 1970, já em São Paulo, Vallauri desenvolve uma linguagem gráfica evocativa da Pop Art, elaborando xilogravuras de grandes dimensões que ganham o espaço público, como Boca com Alfinete (1973), de evidente teor político. Objetos e o corpo humano - ou fragmentos dele - são temas privilegiados dessas intervenções.
A partir de fins dessa década, e dando continuidade à mesma exploração de uma iconografia que remete à cultura de massa dos anos 1950, adota o graffiti como linguagem, concebendo personagens que remetem àqueles das histórias em quadrinhos e, em especial, às pin-ups. O stencil é largamente empregado (são moldes de papelão, como máscaras, que recebem tinta em spray). Também se apropria de figuras conhecidas das histórias em quadrinhos, como o personagem Mandrake, de Lee Falk. As imagens são transferidas para o papel e ganham o espaço da arte postal e dos livros de artista.
Em 1985, apresenta na Bienal Internacional de São Paulo a instalação A Festa da Rainha do Frango Assado, uma reunião dos graffitis com os quais vinha trabalhando e aliada a objetos, simulando os ambientes de uma casa repleta de ícones da sociedade de consumo. A obra irônica trata-se de um espaço de frivolidades a partir de uma cenografia absolutamente precária, apontando para o caráter descartável da modernidade.
Uma pequena análise da obra : Mendigos junto ao mar.
Mendigos junto ao mar
A rudeza das superfícies não impede que toda ternura do artista pelos miseráveis extravase nesta pintura. Os tecidos rotos põem à mostra as anatomias esqueléticas, como nas costas da mulher, onde aparece a ossatura saliente. O frio congela os corpos e as almas. O azul profundo configura um ambiente melancólico devastador.
Mendigos junto ao mar
A rudeza das superfícies não impede que toda ternura do artistapelos miseráveis extravase nestapintura. Os tecidos rotospõem à mostra as anatomias esqueléticas, como nas costas da mulher, onde aparece a ossatura saliente. O frio congela os corpos e as almas. O azulprofundo configura um ambiente melancólico devastador.
Olá alunos, estou colocando aqui um blog para facilitar a vida de vocês. São várias análises de obras e artistas importantes na História da Arte. Boa pesquisa!!!
À primeira vista, os trabalhos de Alexa Meade parecem quadros expressionistas. Mas olhe com mais atenção e perceba: trata-se de muito mais do que isso, pois são instalações bem tridimensionais.
Quando olhamos pela primeira vez, não percebemos. Parecem-nos quadros expressionistas bem pintados. Mas olhe com mais atenção, especialmente para os olhos: é praticamente a única coisa no ser humano que não pode ser camuflada. Alexa Meade descobriu uma nova forma de fazer arte, indo além do bodypainting. Ela faz instalações, adaptando os objectos à sua forma de ver o mundo.
Meade adapta o real ao seu mundo, usando uma técnica própria que faz com que a realidade pareça uma figura bidimensional e criando uma ilusão até para o espectador mais atento. "Trompe l'oeil" é o nome da colecção destes trabalhos onde usa tinta acrílica e leva ao extremo o lema "a arte imita a vida", já que o faz em cima da própria vida. Como se construísse uma máscara em cima dos objectos sobre os quais trabalha, mantendo o seu âmago, sem o danificar.
Alexa Meade tem apenas 23 anos e, ao contrário do que possa parecer, a carreira artística nem sempre lhe foi óbvia. Proveniente de Washington D.C., licenciou-se em Ciência Política e já estagiou no Capitólio por várias vezes, sendo que em 2008 fez parte da equipa de imprensa da campanha de Barack Obama. Só há menos de um ano, quando terminou de estudar, é que se decidiu pela sua paixão artistica, trazendo da política a ideia de que as experiências não são verdades absolutas e, por isso, nunca são interpretadas da mesma forma: ver não significa necessariamente acreditar.
"Os modelos que utilizo são transformados em personificações da interpertação do artista da sua essência. Quando vemos uma fotografia ou vemos a instalação pronta, as pessoas que estão por trás do trabalho desaparecem, eclipsadas pelas suas próprias máscaras". (Tradução livre) É por estas palavras que Alexa Meade descreve o seu trabalho, revelando como nos proporciona uma mudança na forma como vivemos as relações espaciais e, por consequência, emocionais.
O quadro Duas mulheres correndo na praia, de 1922, foi pintado com a técnica guache sobre prensado, e pode ser visto no Musée Picasso, em Paris.
Áudio-descrição
Ao centro do quadro, duas mulheres brancas, jovens, de cabelos escuros, pernas grossas e de pés descalços correm na praia, com as mãos dadas acima da cabeça. Elas usam vestido claro, na altura do joelho. Os vestidos, esvoaçantes com o vento, lhes caem dos ombros, deixando-lhes o seio esquerdo à mostra. Em primeiro plano, um pouco mais à esquerda do quadro, uma mulher tem o rosto voltado para cima e os cabelos soltos ao vento, à altura dos ombros. A cabeça da mulher é pequena, desproporcional ao pescoço largo e ao corpo. Com o braço esquerdo erguido ela segura a mão da mulher à direita; o braço direito aberto, estende-se à altura da cintura, com a mão espalmada para baixo. A perna esquerda, levemente flexionada para trás, mostra o pé no ar. Com o pé direito, calcanhar levantado, ela pisa a areia branca da praia.
A mulher da direita está mais ao centro do quadro, num segundo plano. Ela é gorda, o rosto está de perfil, sobre o pescoço longo e grosso. Os cabelos escuros voam ao vento. Com o braço direito erguido, ela segura a mão da mulher da esquerda. O braço esquerdo, comprido, grosso e desproporcional ao corpo, está estendido para frente, à altura do ombro. Esta
mulher tem as pernas grossas e curtas. Ela pisa a areia com o pé esquerdo, enquanto a perna direita está ligeiramente flexionada, por trás da mulher da esquerda. Sob os pés das duas vê-se, à esquerda, uma porção de areia mais escura e, ao centro e à direita da praia, uma porção mais clara, com maior luminosidade. Ao fundo, o azul do mar calmo se une ao azul do céu com nuvens carneiras.
Sou arte educadora, artista plástica, tenho duas netinhas que amo de paixão. ( Babo colorido por elas.) Gosto muito de ministrar aulas de arte,e fico arrepiada em vivenciar a arte no meu dia a
dia. Espero que eu possa ajudar os interessados em arte, tanto para ampliar seus conhecimentos, sua visão de mundo ou para realizar trabalhos escolares. Enfim, para que se enriqueçam culturalmente. Bom proveito!!!